Crítica | Um Clássico Filme de Terror (2021)

Não é um filme para quem é fã do gênero

Pedro Rocha
5 min readJul 18, 2021
Imagem de um fundo preto com letras grandes em vermelho apresentando o nome do filme em inglês: A Classic Horror Story. Elas possuem rastros vermelhos indicando sangue escorrendo.
Fonte: Onlytech

O longa metragem italo-americano vem com uma proposta que agrada em alguns pontos e desagrada em outros, tornando a experiência de assisti-lo similar a uma montanha russa. Às vezes você tá lá em cima, às vezes lá embaixo e quando termina, percebe que nem foi tão bom assim, se questionando se valeu o valor do ingresso do parque.

Resumindo bem a sinopse, o filme conta a história de um grupo de amigos (podemos chamar assim?) decidem viajar com um trailer para algum lugar — que não importa tanto-, porém sofrem um acidente no meio da estrada. Ao acordar no dia seguinte, reparam que estão no meio da floresta e buscam sair dali de alguma forma, mas percebem que não vai ser tão fácil assim.

Atenção: à partir desse trecho, o texto contará com alguns spoilers do filme.

Começando pelos pontos positivos, é possível dizer com tranquilidade que esteticamente o filme acerta muito, mas apenas até o meio. Com um bom jogo de câmeras, o filme entrega algo que agrada os olhos tanto daqueles que gostam de cinema, quanto daqueles que não são muito inteirados do assunto.

Além disso, algumas cenas contam com uma paleta de cores que faz diferença para o momento, contribuindo muito para o conteúdo da cena. A forma como o diretor quis trabalhar o jogo de azul e vermelho, principalmente nas cenas em que as personagens estão dentro da casa e assustadas com os recentes acontecimentos, foi algo bastante natural, mesmo que não faça sentido no mundo real. Jamais que uma lamparina acesa com uma vela vai trazer um vermelho tão intenso quanto podemos ver na cena, entretanto é bonito como ele se contrapõe com o azul da escuridão. Porém, dado o resultado final do que podemos ver na tela, pode-se relevar essa discrepância filme vs. realidade.

Além disso, a forma como eles entregam elementos do longa de Midsommar, O Massacre da Serra Elétrica, A Bruxa de Blair e Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio é uma fórmula interessante para cativar o fã do gênero que se prestou a assistir o filme italiano. O filme buscou apresentar claramente elementos das obras que referenciam, o que é interessante para quem assiste e consegue captá-los. Acredito que isso é muito mais interessante do que ver a referência tá em um elemento escondido no fundo de uma das cenas.

Porém, como a alegria do fã de terror não dura por muito tempo, após a morte de todos os personagens, restando apenas a protagonista e Fabrizio, o filme começa a decair. Ao descobrir que o massacre dos amigos nos rituais é algo planejado para compor o filme de Fabrizio, provavelmente o espectador que já assistiu inúmeros filmes de terror, horror e suspense começa já a prever aonde que tudo isso vai dar. Em um completo desastre com um final previsível. Mesmo que não seja previsível. Talvez fosse melhor que tivesse sido previsível.

Cena do filme com close no rosto de uma menina de pele branca aparentando 13 anos de idade. A imagem toda é em vermelho e a menina está em volta de palha, deixando apenas um buraco que deixa amostra o seu rosto. Ela olha para algo atrás do espectador e não possui expressão.
Fonte: Seriestation

A maneira como é conduzido os plots twist é porca. Descobrir que a prefeita que foi citada logo no início do longa é a chefe da seita, que Fabrizio só queria mortes para o seu longa, que Chiara era uma atriz e que Elisa vai “se vingar” é algo cansativo porque ocorre tudo em um menos de meia hora. E se fosse algo realmente impossível de ter percebido, até que seria interessante e eu não reclamaria de ser tudo em um pouco tempo.

Se você que está lendo essa crítica, assistiu o filme e conseguiu se atentar que logo no início quando Fabrizio vê a placa de animal na estrada de ponta cabeça e sente algo, conseguindo perceber que ele não é um mero personagem secundário, provavelmente não se espantou em saber que ele era um dos vilões. Além disso, por que nós só reconhecemos que ele tem um aparelho auditivo quando Mark decide perguntar o que houve para ele precisar daquilo? Não obstante, por que Fabrizio mentiu em dizer que Mark cochilou? Ali percebe-se que o italiano não é flor que se cheire. O que seria algo interessante se os escritores do longa não quisessem fazer do surgimento do lado malvado da personagem como um plot twist. Seria melhor deixar que esse lado de vilão se construísse com o passar do tempo!

Se o filme tivesse acabado quando Elisa consegue matar Chiara e Fabrizio, penso que seria uma boa forma de terminar com aquilo que já não estava indo bem. Mas decidem continuar, e fazem uma referência à Antebellum com a saída da Elisa da zona militar e a entrada no mar. Agora: por que é tão interessante demonstrar como as pessoas querem filmar tudo, até uma moça toda ensaguentada que decide cair no mar? Nesse momento eu só queria que aparecesse logo os créditos.

Imagem do rosto da protagonista do filme, Eliza, em choro. Ela possui pele branca, aparenta ter 25 anos, possui cabelos castanhos escuros e compridos, ultrapassando os ombros. Está olhando para a direita da imagem. Com a direita da cabeça sangrando, o sangue escorre por todo o seu rosto e pescoço. Está com a boca aberta e sangue escorrendo pelo nariz.
Fonte: Cinepop

Mas não, o longa ainda decide fazer uma cena final de um espectador do filme que assinou o Bloodflix para ver as cenas gravadas por Fabrizio, dando a entender que o filme feito por ele deu certo e foi divulgado, de alguma forma. A única coisa que, se eu estiver certo, foi interessante é a crítica indicada pelos escritores de dizer que “os italianos não sabem fazer filmes de terror”, o que, quem realmente gosta do gênero, sabe que é uma total mentira. De certa forma, foi uma tentativa de demonstrar o péssimo comportamento de espectadores em generalizar toda uma indústria nacional a partir de algumas produções.

Ainda me sinto na obrigação de fazer uma ressalva em não compreender o porquê há pessoas na internet se dedicando em explicar o final que não subentende nada. Deixa claramente o que quer e acaba bem depois de onde realmente deveria ter acabado.

De forma geral, Um Clássico Filme de Terror não é para quem gosta do gênero. Talvez agrade aqueles que consomem pouco do gênero, que se desatentam facilmente e que não se importa com coisas não tão bem executadas. Porém, para não acabar essa crítica com a imagem de um espectador amargurado, posso dizer que as referências foram bem executadas, e espero que no futuro elas ocorram novamente em outras obras. E também espero que não tenha uma sequência, por favor.

Nota: ★★☆☆☆

--

--

Pedro Rocha
Pedro Rocha

Written by Pedro Rocha

Bibliotecário que gosta de falar da área e livros.

No responses yet